3 Mudanças na GRI Universal Standards
Após 4 anos de uso, as Normas Universais GRI (101, 102 e 103) passaram por consulta pública para revisão. A revisão inclui as recomendações do Comitê Técnico 290 de Divulgação de Direitos Humanos da GRI e o feedback de usuários e relatores e sobre a interpretação e uso das normas.
Os relatórios de sustentabilidade raramente são utilizados em todo o seu potencial. Apesar de depoimentos constantes sobre como os relatórios de sustentabilidade podem criar valor real para os negócios, os profissionais dentro das empresas lutam para fazer com que a administração use o processo de relatórios para explorar oportunidades de mudança e inovação de forma significativa. As mudanças propostas nas GRI Universal Standards, particularmente em torno da materialidade e do engajamento das partes interessadas, deixam menos espaço para interpretação e levarão a administração a examinar de forma mais expressiva o que significa sustentabilidade e, espera-se então, levar a mudanças transformadoras.
1. Mais considerações sobre a cadeia de valor (mas ainda não o suficiente)
Um dos principais objetivos do processo de revisão foi integrar a due diligence nas normas GRI, introduzindo o conceito de due diligence para se alinhar com instrumentos internacionais, como os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais e a Orientação da OCDE de Due diligence para Conduta Empresarial Responsável. A perspectiva da due diligence traz novos itens de divulgação em todas Normas Universais (GRI 101, 102 e 103).
Com a adoção da perspectiva da due diligence, esperamos um nível muito mais alto de transparência sobre como a organização identifica, avalia e gerencia os impactos em todos os níveis e em todas as funções. É aqui que, em nossa experiência, as empresas têm uma grande lacuna de desempenho.
As principais áreas afetadas são a análise da materialidade e a avaliação da cadeia de valor. As expectativas de due diligence levam as organizações a divulgar os impactos em toda a cadeia de valor, com foco especial na cadeia de fornecimento. A ELEVATE presta serviços de due diligence, avaliações de risco e segmentação de fornecedores nas cadeias de fornecimento de seus clientes há algumas décadas. Coletar e usar dados da cadeia de suprimentos para informar os processos de tomada de decisão, incluindo análises da materialidade e desenho de estratégia, serão a chave para a transição às novas normas.
As mudanças propostas pedem apenas descrições das cadeias de valor, sem a necessidade de avaliar e explorar totalmente os impactos e efeitos das compras e produtos de uma empresa ou, relatar o desempenho da cadeia de valor. As organizações relatoras, não apenas deixarão de perceber o progresso no desempenho, mas também serão punidas pelo mercado se simplesmente descreverem, e não analisarem, as implicações de sua cadeia de valor, ou não relatarem o desempenho em relação a riscos inerentes da sua cadeia de fornecedores. Na nossa visão, isso seria uma grande perda.
2. Usando a materialidade para impulsionar a mudança
Atualmente, as normas GRI permitem identificação de tópicos materiais com base na significância dos impactos econômicos, ambientais e sociais da organização e sua influência significativa nas avaliações e decisões das partes interessadas. A matriz de materialidade frequentemente usada pelas organizações relatoras interpreta isso como uma avaliação de “influência nas partes interessadas” e “significância para os negócios” ou algo semelhante. Essa interpretação, muitas vezes, permite que a administração considere apenas os impactos sobre si mesma, e evite a realidade dos impactos externos das atividades operacionais.
No esboço da nova norma disponibilizado para a consulta pública, a norma GRI 103 é focada nos temas materiais e no processo de materialidade. O texto afirma que os tópicos materiais de uma organização devem “refletir seus impactos mais significativos na economia, no meio ambiente e nas pessoas, incluindo os impactos nos direitos humanos”. Essa formulação mais clara e assertiva deve incentivar as empresas a considerar como as operações e os relacionamentos impactam o meio ambiente e a sociedade.
Acreditamos que uma materialidade integrada ou materialidade de dupla perspectiva pode ser usada para um relatório ESG ou de sustentabilidade que esteja de acordo com os GRI Standards, mas que também pode servir como fonte estratégica a partir de várias análises de desempenho e se alinhar a diversos frameworks, como SASB, TCFD, IR e padrões específicos da indústria. É importante entender que a identificação de dados ESG deve ser direcionada conforme as necessidades do usuário (no caso, organizações relatoras), e não à disponibilidade do provedor, que pode ser um limitador no processo de análise da materialidade.
A nova GRI 103 propõe critérios para determinar a relevância dos impactos negativos: severidade (com base na escala, escopo e reversibilidade) e probabilidade. Esta abordagem está alinhada com as metodologias comuns de avaliação de impacto, geralmente usadas para avaliação de impacto ambiental e algumas avaliações de impacto social. Nesse contexto, o uso e análise de dados torna-se mais importante quando se trata de avaliar a relevância - e requer utilização de informações internas e fontes de dados abertas, algo que na ELEVATE temos apresentado por meio de nossas ferramentas de análise.
Essa nova definição também afetará a governança da sustentabilidade nas organizações, exigindo muito mais engajamento e responsabilidade dos executivos.
3. Envolvimento mais direcionado das partes interessadas
O engajamento das partes interessadas é atualmente necessário para alimentar o processo de avaliação de materialidade. As mudanças propostas pedem às empresas relatoras que descrevam “como a organização busca garantir um engajamento significativo com as partes interessadas”, o que estimula, mas não as obriga, a garantir o envolvimento significativo das partes interessadas. Esse novo requisito de divulgação impulsiona as organizações a serem mais estratégicas sobre como se envolver com as partes interessadas.
Essas mudanças podem forçar as empresas a abordar tópicos delicados que, de outra forma, poderiam ser deixados de lado. O tratamento de temas ignorados, com o apoio das partes interessadas, deve promover relatórios mais equilibrados e pode até levar a novas soluções e oportunidades disruptivas.
Uma segunda mudança proposta que aumenta o engajamento das partes interessadas é a necessidade de relatar “as partes interessadas e especialistas cujas opiniões basearam a identificação dos temas materiais”. Muitos de nossos clientes já utilizam painéis de especialistas ou buscam analisar temas com maior profundidade por meio de aplicação de Inteligência artificial. Essa nova exigência de divulgação incentiva atividades que coloquem os líderes empresariais mais em contato com a sustentabilidade. Embora isso possa parecer mais complicado, os líderes podem se beneficiar com esse esforço. Afinal, um líder mais bem informado só pode tomar melhores decisões.
Outras mudanças na estrutura e na intenção dos padrões:
GRI 101 agora se chama GRI 101: Utilizando o GRI Standards. Apresenta o Sistema de normas GRI, que agora inclui os Standards Setoriais junto com os Standards Universais, e os Standards Temáticos, que foram reagrupados em uma série, em vez das 3 séries anteriores (econômica, ambiental e social). Já existe um plano de desenvolvimento de Normas para diversos Setores e o primeiro, para o setor de Óleo e Gás, já está em consulta pública.
O GRI 101 também apresenta mudanças nos princípios de relato, eliminando a diferença entre os princípios de conteúdo e qualidade. Temos agora 8 princípios: exatidão, clareza, equilíbrio, comparabilidade, integridade, tempestividade, contexto de sustentabilidade e verificabilidade. A materialidade e a inclusão de stakeholders agora fazem parte do GRI 103 (veja abaixo).
O esboço da nova norma GRI 101 inclui uma série de conceitos-chave revisados como impacto (externo), tópico material (com foco na perspectiva do impacto), due diligence (nova introdução nos padrões GRI respondendo aos principais instrumentos internacionais de due diligence, como Princípios Orientadores da ONU sobre Humanos Direitos e Diretrizes da OCDE) e partes interessadas (também alinhadas às diretrizes da OCDE).
De acordo com o texto disponibilizado para consulta pública, as opções Essencial e Abrangente não existem mais. As organizações relatoras serão demandas a publicar "de acordo com as normas GRI", definida pelo GRI 101 como Abordagem A, ou "com referência às normas GRI", agora denominada como Abordagem B.
A GRI 102 passou a se chamar Sobre a Organização, contendo os requisitos para o fornecimento de informações sobre o contexto e a natureza da organização relatora. Os conteúdos foram reorganizados e reagrupados em 5 seções com uma nova nomenclatura: Detalhes da organização e práticas de reporte (REP), Atividades da organização (ACT), Governança (GOV), Conduta empresarial responsável (RBC) e Engajamento das partes interessadas (SE). A inclusão da seção RBC é a grande diferença aqui, que inclui políticas de direitos humanos, implementação em toda a organização e relacionamentos, e mecanismos de reclamação e processos de remediação.
GRI 103: trata de Temas Materiais, como identificá-los e priorizá-los, quais informações as organizações precisam divulgar sobre a identificação e gestão e os impactos relacionados. Oferece orientações mais detalhadas sobre como definir os temas materiais a serem divulgados no relatório.
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Parcerias BSD em 2020
Em 2020 a BSD Consulting apoiou o banco digital Nubank na elaboração do seu Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) desde a sua fundação, em 2013.
Como estratégia para minimizar sua contribuição para as mudanças climáticas, o Nubank assumiu o compromisso de compensar todas as emissões acumuladas neste período, por meio da compra de créditos de carbono em projetos que tragam benefícios socioambientais. Assim, a empresa passa a ser a primeira do setor bancário do Brasil e México a realizar tal nível de compensação de emissões.
O Nubank irá apoiar três projetos no Brasil e um no México que, juntos, irão compensar o equivalente a 4,3 mil toneladas de CO2. O próprio banco ressaltou, no entanto, que por ser digital, tem menos emissões do que outras marcas do mercado financeiro e de outros setores da economia. Como o banco digital também é recente, com apenas sete anos, as emissões acumuladas são poucas comparadas a outras empresas.
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