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Impactos sociais e ambientais da pesca

A Global Reporting Initiative (GRI) lançou recentemente a norma setorial de agricultura e pesca. Muito se fala sobre o setor de agro, mas pouco sabemos dos principais impactos em sustentabilidade ligados a pesca. A atividade pesqueira e seus derivados são fontes importantes de alimento e se configuram como um grande recurso para a segurança alimentar da população humana: de acordo com a revista Food Security, em 2015, o pescado representou 10% da fonte de alimentação mundial. Metade de tudo que é pescado no mundo deriva da pesca de pequena escala, que é realizada em comunidades locais e diretamente ligada a tradições e valores da região em que ocorre [1]. Pesca tradicional e pesca industrial A maior parte do que é pescado dentro da pesca tradicional é para consumo próprio ou é vendida para a própria comunidade, tornando a atividade pesqueira um meio essencial de subsistência dessas populações [1]. No Brasil, os caiçaras e os ribeirinhos são bons exemplos de como esse sistema funciona. A outra metade vem da indústria da pesca, uma atividade de larga escala que opera com barcos capazes de identificar animais marinhos à distância e redes com alta capacidade de captura. Apesar de serem muito semelhantes em relação à quantidade de animais marinhos pescados, a pesca industrial tem um impacto negativo no meio ambiente e na sociedade muito mais expressivo do que a pesca tradicional.

Imagem (1): Rota Caiçara A.P.B
Imagem (2): https://en.wikipedia.org/wiki/Overfishing As imagens mostram a grande diferença entre o processo da pesca artesanal, representado na imagem 1, e o processo da pesca industrial, na imagem 2. São vários os impactos ambientais da atividade de pesca. Mas dentre os impactos ambientais gerados pela atividade pesqueira, estão como principais:
  • a perda de biodiversidade dos oceanos, gerada, na maioria dos casos, devido à sobrepesca e às atividades ilegais e sem regulação;

  • o descarte de resíduos plásticos no oceano, como as redes de pesca, que representam perigo aos animais marinhos, que com frequência se prendem acidentalmente no equipamento e não conseguem se desvencilhar.

É comum ouvirmos na mídia e nos meios de comunicação alertas em relação aos plásticos nos oceanos. Curiosamente, a maior parte não inclui os resíduos gerados pela pesca. Muito se fala dos canudos, das garrafas e plásticos de uso único, mas na realidade, um estudo feito pela organização Ocean Cleanup revelou que redes e cordas de pesca compõem 46% do material encontrado na ilha de lixo do Pacífico. O desafio das mudanças climáticas Não somente a atividade têm impacto profundo no meio ambiente, mas também existem riscos ambientais que podem afetar significativamente suas cadeias produtivas. Isto é, pensando nas empresas que trabalham com a pesca, suas operações são afetadas diretamente pelas mudanças climáticas, com o aumento da temperatura e do nível dos oceanos, na acidificação das águas, nas alterações de precipitação e no aumento de eventos climáticos extremos. Condições de trabalho precárias Além dos impactos ambientais, a pesca pode estar associada a diversos impactos sociais. Uma pesquisa realizada na Tailândia pela “The Civil Society Organization Coalition for Ethical and Sustainable Seafood[2], forneceu avaliações detalhadas do processo de reforma trabalhista na indústria pesqueira do país com base em entrevistas com mais de 700 pescadores, em sua maioria migrantes. A pesquisa concluiu que apesar dos avanços na formalização e fiscalização terem trazido melhorias para setores da indústria de pescados, a maioria dos trabalhadores das áreas de pesca, pré-processamento, fábrica e aquicultura recebem menos do que o considerado suficiente para sobreviver. Os trabalhadores são autônomos, em sua maioria, e por isso mais vulneráveis a choques, pois sua renda depende da oferta e demanda. As vezes trabalham por peça, onde os trabalhadores são pagos com base na produção, essa prática transfere o risco comercial do empregador inteiramente para o trabalhador, ou seja, trabalhadores podem ter que trabalhar horas excessivas para alcançar o equivalente ao salário-mínimo. Além disso, a pesquisa concluiu também que mulheres recebem menos do que homens, são mais propensas a terem empregos precários e enfrentam direitos limitados de maternidade e opções de creche, apenas 6% disseram ter direito a licença maternidade remunerada. Com a pandemia do COVID-19, trabalhadores foram ainda mais impactados, se viram sem receber remuneração mínima e com pouco ou nenhum apoio dos seus empregadores, levando-os a endividamento e outras situações precárias. A GRI tem uma norma setorial A capacidade de uma organização de se adaptar a essas adversidades, adotando práticas mais responsáveis, com foco na preservação dos ecossistemas naturais e em práticas de trabalho justas, é o primeiro passo para garantir sua permanência no mercado. No caso da indústria pesqueira, existem oportunidades relacionadas às emissões, por exemplo, sendo possível diminuir a liberação de gases emitidos no processo de fornecimento de energia aos navios por meio da aquisição de embarcações com maior eficiência de combustível; ou no caso da perda de biodiversidade, uma alternativa para a diminuição deste problema seria a adoção de práticas de pesca mais sustentáveis, que levam em conta o processo reprodutivo das espécies marinhas. A Global Reporting Initiative (GRI) em sua versão atualizada da norma (2021), publicou a norma setorial (GRI 13) com foco específico na pesca, junto com a agricultura e aquicultura. A norma será obrigatória para o setor a partir de 2024, mas as empresas já podem utilizar os conteúdos específicos para demonstrar o que vem fazendo, seu desempenho e quais os desafios e oportunidades nesses aspectos. [1] https://www.fao.org/artisanal-fisheries-aquaculture-2022/home/en/ [2] Oxfam International, 2021. Written by Josh Stride and produced by the CSO Coalition in Ethical and Sustainable Seafood (Thai CSO Coalition). Assistance Asian Research Center for Migration (ARCM). DOI: 10.21201/2021.7628


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